GT Estudos da Performance – Anais da V Reunião Científica

 
  • Jardelina da Silva: o processo psicótico de uma “artista psicótica” pode ser comparado com a cena performática do século XX?

Alessandro Antonio da Silva

Resumo: O texto final deste resumo terá como principal objetivo investigar, através da expressão performática exercida pela “artista” Jardelina da Silva — diagnosticada como esquizofrênica-paranóide —, similaridades presentes na sua dinâmica “artística” com a linguagem performática originada na segunda metade do século XX. A pesquisa terá como finalidade traçar uma intersecção da “linguagem” desenvolvida por Jardelina com a arte performática iniciada em meados do século passado, por meio de linguagens que permeiam o teatro, a moda e a mídia.
O texto também visa à pesquisa de arte, loucura, performance e mídia, a partir da análise da manifestação “performática” existente na personalidade “psicótica” de uma portadora de esquizofrenia paranóide. Será analisada na dinâmica exercida pela “artista” sergipana Jardelina da Silva, mais conhecida como “Jarda”, os impulsos criativos que a loucura propiciava ao seu fazer artístico, por meio das “personagens” que desenvolvia com a criação de roupas que objetivavam a fixação de sua própria imagem, através do uso da fotografia.
O estudo também fará menção à crítica da “Ideologia do Sujeito”, já que a referida “artista” se enquadra na estética recente da História da Arte, em que pacientes psiquiátricos começaram a ter o reconhecimento artístico de suas criações no cenário mundial das artes. Criações que anteriormente ficavam confinadas aos limites dos asilos. Nesse caso, a pesquisa tratará do quadro de similaridades presentes no processo de criação artístico próprio da performance, através da inclusão de recursos multimídia e moda.

Palavras-chave:

 

  • Vozes de Ngoma: Performance Ritual e Linguagem Teatral

Carina Maria Guimarães Moreira
Professora UFOP

ResumoO embate entre representação e performance marca profundamente o fazer cênico do século XX e contemporâneo. Se por um lado a noção de representação encontra-se, na nossa história, cada vez mais ligada à idéia de reprodução da vida no palco, a performance surge com a idéia de aproximação entre arte e vida. No centro desse debate, Richard Schechner define a idéia de “comportamento restaurado”, fundamental para compreensão de outra dimensão da performance: a performance cultural e ritual. Nesse sentido, o pensamento de Schechner não apenas abre o horizonte para compreensão de novas formas de expressão cênicas contemporâneas, como propõe novas diretrizes de análise e confecção para o teatro representacional. O que propomos, a partir da análise do processo de criação do espetáculo Vozes de Ngoma, TCC de Direção em Teatro da Universidade Federal de Ouro Preto, é compreender como as teorias da performance de Schechner podem modificar e re-propor métodos e técnicas para os processos, tanto de ensaio como de apresentação, do teatro representacional.  O referido trabalho de montagem de conclusão de curso, propondo tratar do contato cultural entre África e Europa em terras brasileiras, a partir do choque entre crenças religiosas diversas, configurou-se, enquanto produto final, como um espetáculo cênico de caráter representacional, com dramaturgia textual, atores, personagens, enredo, etc. Porém, ao partir da vontade de investigar o universo que engloba o imaginário africano – e seus vestígios na formação da cultura brasileira – tornou-se visível um choque, e uma série de questionamentos, quanto ser a forma representativa a melhor para tal conteúdo. São exatamente tais questionamentos, longe de terem sido resolvidos em tal montagem, que propomos colocar em debate na presente comunicação.

Palavras-chave:

 

  • Como são trabalhados os conceitos teóricos da etnocenologia e da performance  nos processos   criativos e nas  investigações cênicas?

Cesar Huapaya
Universidade Federal do Espírito Santo

Resumo: Os estudos das artes e das práticas performativas levaram os pesquisadores a se interrogarem sobre quais são as perspectivas, temas, teorias e conceitos filosóficos dos estudos da performance. Como esses conceitos são trabalhados nos processos de criação e investigação das artes cênicas, das artes performativas e nos estudos sobre as práticas performativas?.A performance não é uma disciplina rígida, é uma antidisciplina. Na antropologia, ela é considerada uma etnociência; nas artes, uma tendência que teve seu início nos anos 1960. Nos estudos das artes cênicas, a etnocenologia e a antropologia teatral vão encontrar na antropologia da performance e na antropologia social conceitos teóricos, como as técnicas de corpo, inculturação aculturação, gestus, ação e alteridade. Os estudos da antropologia e da sociologia também vão buscar na metáfora do teatro fontes de pesquisa e teorias. A metáfora do teatro, na antropologia, e a perspectiva antropológica das artes e das artes cênicas demonstram o caráter interdisciplinar nas artes cênicas, nos estudos da história das artes e na antropologia. Hoje é impossível falar em um estudo puro. Os pensamentos filosóficos, psicanalíticos, antropológicos, históricos, físicos, biológicos e lingüísticos são citados como fontes teóricas que são trabalhadas nos estudos das artes e da antropologia.Vivemos um novo paradigma que é o fim da forma de pensar singular e única. Para qualquer disciplina desenvolver-se, precisa abrir o seu campo de estudos e olhar as outras pesquisas feitas em outras áreas. A performance ou os estudos das artes performativas e das práticas performativas tornaram-se temas de estudos das civilizações ocidental e oriental com suas formas de vida.

Palavras-chave:

 

  • Performance, sons e imagens

Eduardo Nespoli
Universidade Estadual de Campinas – Unicamp

Resumo: O trabalho explora o tema da transformação corporal e da criação em performance, focado na relação do corpo com o espaço, o som e os objetos. Para estudar estas relações, investiguei no ritual xamanístico de- nominado maraká, realizado pelo povo indígena Asurini do Xingu, os elementos operacionais de sua performance, as relações que o xamã e o wanapy (papéis rituais do manaká) desenvolvem com a preparação do espaço e o manuseio de objetos plásticos e sonoros enquanto agentes de sua transformação corporal. Acompanhei o processo de preparação do ritual do maraká e assisti a realização dos ritos. Esta investigação, por sua vez, forneceu recursos para observar uma relação específica que a performance desenvolve com o espaço, os objetos e as tecnologias contemporâneas: estes elementos são utilizados para transformar as percepções, como os objetos utilizados no ritual maraká. Tecendo este tema, abordado a partir desta perspectiva, criei uma instalação interativa utilizando recursos tecnológicos digitais, cujos conteúdos referem-se à experiência de campo.

Palavras-chave:

 

  • Teatro negro brasileiro -Busca pela Identidade Aponta para Novidades

Evani Tavares Lima
Doutoranda em Artes Cênicas – Unicamp – SP

Resumo:O foco desta comunicação é a “Pesquisa artística nos processos coletivos”. Neste texto, nos debruçamos, particularmente, sobre os processos de trabalho do teatro negro, desenvolvido no Brasil. Utilizando referenciais de ambos, Teatro Experimental do Negro e Bando do Teatro Olodum, analisamos como, as incursões desses grupos, na cultura negro brasileira, têm aberto caminhos para, uma possível, ampliação do espectro da prática do ator, na exploração de elementos negro-expressivos na cena. Esta discussão está inserida no estudo: Um olhar sobre o ator do Teatro Experimental do Negro e do Bando de Teatro Olodum. Pesquisa de doutorado, em progresso, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Artes da UNICAMP (linha de pesquisa Arte e Sociedade), sob orientação da Professora Doutora Inaicyra Falcão. Neste estudo, propomos uma análise do teatro negro sob a perspectiva do intérprete. Teatro negro, aqui concebido, como o teatro cuja base fundamental é a afirmação da identidade negra, associada a proposições estéticas de matriz africana, embasadas em questões existenciais e político-ideológicas negras. O teatro negro, além de constituir-se no instrumento político e educativo que, instaura um grande espaço de reflexão do fazer teatral, propõe caminhos outros de práxis e estética teatral. Constitui-se como um fértil de campo de reflexões que, certamente, ainda precisam ser feitas por brancos e negros, já que essas reflexões, possivelmente, enriquecerão mais o fazer teatral.

Palavras-chave:

 

  • Pesquisa e arte da modernidade a desfronteirização contemporânea nos processos criativos do corpo teatral investigativo

Gisela Reis Biancalana

Resumo: Questões latentes a respeito da arte contemporânea, seu papel e sua situação atual no contexto da pesquisa têm sido aprofundadas à medida em que os artistas adentram no universo acadêmico. As artes inseridas no contexto universitário sofrem acusações depreciativas por não se adequarem aos moldes científicos instituídos e hegemônicos a séculos. Porém, estes cursos possuem características que devem ser valorizadas na sua especificidade, pois o fato de ser diferente não significa que esteja desvinculado da esfera do conhecimento. O conhecimento a respeito da arte necessitou da estética, conceito que veio adquirindo uma série de significados ao longo da história e, a algum tempo, veio constituindo-se em um embasamento filosófico das artes, reafirmando sua presença nos meios acadêmicos. Mas, o conhecimento em arte não se reduz à estética, existem outros fatores que envolvem a produção deste conhecimento. As discussões a respeito da arte na universidade não residem apenas na “reflexão acadêmica sobre as artes, mas nas particularidades do criar artístico dentro do espaço da universidade” (RAMOS, 1997, p. 17). Acredita-se que a pesquisa acadêmica em arte pode aliar a reflexão teórica enquanto exposição teórica à prática artística enquanto exercício da pesquisa e investigar sobre seus procedimentos metodológicos. Para tanto, historicamente utilizou-se de processo comparativo com os métodos de pesquisa tradicionais até traçar caminhos possíveis na busca por sua própria identidade epistemológica. A objetividade é de difícil aplicação quando se trata de artes onde a subjetividade humana é condição imprescindível, exceto nas pesquisas técnicas. Se os processos criativos em arte são produção de conhecimento, um possível encaminhamento para as discussões sobre pesquisa em arte deve envolver a subjetividade encarada como condição principal, motor da pesquisa em arte, dimensão esta que deve ser definitivamente assumida nos meios acadêmicos.

Palavras-chave:

 

  • O jogo quinário na criação do espetáculo teatral

Iremar Maciel de Brito
UNIRIO

Resumo:O sistema universal da narrativa ou sistema quinário aplicado à criação do jogo teatral é uma pesquisa teórica e prática que venho desenvolvendo nos cursos da Escola de Teatro da UNIRIO há alguns anos. Inclusive no congresso da ABRACE de 2008 apresentei um trabalho, discutindo as bases dessa teoria, bem como o alcance prático de minha pesquisa. Agora, seguindo o mesmo diapasão, neste trabalho, apresentamos um novo momento da pesquisa com o jogo quinário, ou seja, a proposta de criação de um espetáculo teatral inteiramente baseado nesta técnica.

Palavras-chave:

 

  • A performance do corpo brincante

Juliana Bittencourt Manhães
UNIRIO

Resumo:O corpo brincante responde a diversos estímulos do jogo e do ritual. É um corpo que se move na espontaneidade da brincadeira, embalado pelos sons de tambores e canções que pontuam as pulsações dos movimentos, com uma percussão que dita o ritmo do pé no chão.
Refiro-me a um corpo marcado por sua própria história, sua vida cotidiana, que traz na sua gestualidade sinais do seu trabalho e suas espiritualidades. Graziela Rodrigues diz que “a dança exerce a função de revivificar a memória, construindo-se a partir dos próprios sentidos da festividade” (1997:30). Um “corpo produzido em um espaço ritual”, como comenta o pesquisador Zeca Ligiéro, trazendo uma expressão particular e uma ligação intensa e visceral com o mítico!
Podemos pensar neste corpo como estrutura física, que se locomove com os pés no chão, criando uma espécie de enraizamento, relação intensa com o solo ou como um corpo afetivo que acolhe memórias, trazendo marcas de natureza simbólica, expressando sua experiência enquanto ser humano, a partir da sua movimentação corporal e desenvolvendo uma linguagem específica.  Essa dança traz um corpo que se movimenta a partir das relações de jogo que estabelece um fluxo entre o risco da espontaneidade e a força do gestual das celebrações festivas.  Falamos de um corpo que se comunica a partir da sua gestualidade, e vive os seus movimentos a partir da sua relação pessoal com a brincadeira, sua memória afetiva e sua disponibilidade. Seus movimentos são elaborados a partir da repetição, ou seja, a força de sua sustentação enquanto brincadeira é a resistência de um comportamento restaurado, que, através da reiteração, se renova, criando variadas nuances, integrando divertimento e jogo, transformados em dança.  O objetivo desta pesquisa é pensar em novas dinâmicas e metodologias, a partir da gestualidade advinda das danças brasileiras, funcionando como método para a formação e criação do ator-dançarino, através das manifestações populares.

Palavras-chave:

 

  • Guerreiras; processo de criação cênica a partir da f(r)icção entre artistas-pesquisadores e as mulheres de Tejucupapo-PE

Luciana Lyra
Orientador: prof. Dr. John cowart dawsey (fflch/usp)
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)/NAPEDRA-USP

Resumo: Esta pesquisa toma como eixo a interpretação de uma rede tecida por trânsitos e interações, interferências e implicações de minha experiência artística-etnográfica com as mulheres de Tejucupapo, distrito da zona da mata norte de Pernambuco entre os anos de 2006 e 2009. A investigação tem intuito de desvelar as camadas sobrepostas, superpostas e simultâneas desta experiência, desde meu acompanhamento e minha assessoria na realização do espetáculo A Batalha das Heroínas pela comunidade, às oficinas de teatro ministradas no lugarejo, passando pelo processo de criação e apresentações da performance Guerreiras, que, sob minha direção, teve como inspiração a vivência com as mulheres e o imaginário tejucupapense. O objetivo da pesquisa não é transcrever a vivência em campo como fato estanque, hermético e pontual, mas alargar o discurso na percepção do contexto dinâmico que a comunidade encontra-se, entrelaçando as ações simbólicas deste coletivo com a minha experiência pessoal e também simbólica, além da experiência da equipe de artistas por mim coordenada e envolvida na investigação, todos eminentes sujeitos da pesquisa.
O trabalho posiciona-se num lócus dialógico entre a prática artística-etnográfica e a teoria. Lócus, onde a vivência em campo, o processo de criação cênica e as apresentações do espetáculo Guerreiras entrecruzam-se com estudos da performance e do imaginário, descortinando a trama de ações objetivas e subjetivas intrínsecas à experiência, no sentido de compreender como esta pode desdobrar-se em um complexo de procedimentos pedagógicos para criação em artes cênicas. Para adensar este posicionamento investigativo, tomo emprestado dos estudos antropológicos, o conceito de descrição densa1 da experiência etnográfica, cunhado por Clifford Geertz, que se contrapõe a modos de avaliação sistemáticos das culturas, apontando uma abordagem simbólica e complexa, onde o pesquisador situa-se como também sujeito da investigação, empreendendo sua própria construção a partir de construções pré-existentes e interpretando a cultura como um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito não com sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de comportamento modelado2.
Além da abordagem simbólica da vivência em campo, defendida por Geertz, estabeleço ainda conversação com os estudos da antropologia da performance por Victor Turner, Richard Schecnner e Erving Goffman, no tocante às noções de experiência, comportamento restaurado, seqüência total da performance e  representação do eu na vida cotidiana. Dos estudos do imaginário, também firmo relação direta com o pensamento do filósofo Gaston Bachelard, os ensaios acerca da imaginação simbólica de Gilbert Durand, além do contato com as investigações de Danielle Rocha Pitta, uma das pioneiras em pesquisa sobre o imaginário no Brasil. Da Psicologia Profunda, trago à tona diálogos sobre a questão dos arquétipos e a mitologia pessoal, por Carl Gustav Jung, David Feinstein e Stanley Krippner. Do campo teatral, travo reflexões sobre a máscara/atuante a partir de Antonin Artaud, Jerzy Grotowski e Renato Cohen, retornando, concomitantemente, aos meus próprios estudos e às minhas práticas documentadas em monografia de especialização (UFRPE/2003) e na dissertação mestrado (UNICAMP/2005), além de autores afins nas áreas citadas. Faz-se mister mencionar que deste panorama de interlocuções teóricas, duas destacam-se especialmente na pesquisa, uma que se associa à  antropologia da performance, por Turner e a outra à antropologia do imaginário por Durand. Para Turner, a antropologia da performance toma parte de uma antropologia da experiência. Performance é uma expressão de experiência vivida e nesta estão inclusos momentos em que imagens e símbolos do passado se articulam ao presente. A mitodologia, termo cunhado por Durand propõe-se justamente a investigar o modo como surgem essas imagens e esses símbolos, e, baseando-se nas imagens e nos símbolos recorrentes, aponta os mitos regentes em cada período e cultura.
Tendo como foco teórico principal a fricção entre as abordagens antropológicas de Turner e Durand, a pesquisa tem como finalidade explorar o modo como as imagens das heroínas, advindas da batalha contra os holandeses no longínquo século XVII articulam-se ao presente, na experiência teatral dessas mulheres/performers da atual Tejucupapo, transformando-se em uma espécie de mito-guia, em máscara ritual de si. E mais, como a experiência comunitária pôde afetar a mim e, posteriormente, a equipe de artistas-pesquisadores por mim dirigida, suscitando um processo criativo em teatro.
PALAVRAS-CHAVE : Teatro – Performance – Máscara Ritual – Mitodologia

 

  • O Estado da Arte: Descontrução, Construção e Destruição

Márcia Chiamulera
Universidade Federal de Santa Maria

ResumoEste trabalho é resultado da reflexão acerca do processo de criação de um espetáculo teatral pela autora, no qual estão contempladas discussões que cerceiam os campos das Artes Cênicas, da Filosofia e da Antropologia. O texto será dividido em duas partes visando melhor compreensão, assim, na primeira será contemplada a discussão teórica que embasou o treinamento do ator. Neste momento cria-se um campo de referências a partir de uma base que é o treinamento xamânico, associado ao treinamento do ator. Os temas que entrecruzam-se ali perpassam por Antonin Artaud e Jerzy Grotowski na área de artes cênicas; por Jacques Derrida no campo filosófico e por Victor Turner na antropologia. Estes autores, em suas teorias, formam a base para a criação de um treinamento de ator e para conseqüente construção do espetáculo, objeto de discussão do segundo momento deste texto. Neste segundo momento, contemplam-se as diretrizes de construção de um espetáculo a partir da proposta lançada anteriormente e cria-se outro campo de reflexão acerca dos resultados obtidos e dos não obtidos. São convocados ao diálogo Eugênio Barba, Richard Schechner e Richard Baumann, autores que nos permite delinear paralelos – e circunferências – acerca do processo de criação teatral sob a proposta de desconstrução do ator e de construção de personagens, adentrando assim ao campo performático. Ao cabo desta discussão algumas provocações são lançadas acerca dos indicativos do estado atual da “cultura” e dos processos artísticos contemporâneos.

Palavras-chave:

 

  • O ator e a anarquia no teatro da crueldade de Antonin Artaud

Maria Cristina Brito
Docente do PPGAC; Unirio

Resumo: O ator no Teatro da Crueldade trata-se de uma proposta de pesquisa de formalização de estudos da Interpretação Teatral, a partir da Poética da Crueldade de Antonin Artaud, que se estrutura em sua obra O Teatro e seu duplo. Discute-se o mito do duplo e a sua inserção no universo que se manifesta no espaço da peste, da metafísica e da crueldade. Tais conceitos são analisados na perspectiva de Artaud. Neste contexto, o ator como um duplo do atleta, como um atleta afetivo, exercita seus afetos no universo do mito. E nesse exercício, o teatro se manifesta como  ocupação poética do espaço, onde o ator, como  um poeta e criador, escreve seus versos. Tal exercício, implica no exercício da anarquia. Nesse jogo, regido pelo espírito da anarquia, o atleta do coração transforma sentidos em formas ou, ao contrário, parte de formas, atribuindo-lhes, posteriormente, sentidos. Em tal processo, os signos se desestruturam, no que se refere a antigos significados e, a partir da criação de relações que estabelecem no espaço, ganham novos sentidos. É esse exercício contínuo,  de criação de novas relações entre os signos no espaço, que consideramos o princípio e o fim da condição  do ator no Teatro da Crueldade.
Apoio: FAPERJ

Palavras-chave:

 

  • Os processos performativos de Luís Otávio Barata e sua Política de Criação na Cena contemporânea de Belém

Michele Campos de Miranda Instituição
UNIRIO, PPGAC

Resumo:Este trabalho faz parte da pesquisa de Mestrado sobre o artista paraense Luís Otávio Barata. Dramaturgo, diretor, cenógrafo, figurinista, jornalista e artista plástico, que trabalhou em Belém durante três décadas, 1970 a 90. Fundador do grupo de Teatro Experimental Cena Aberta no Pará. Analiso neste artigo a performance política e experimental em sua obra, que rompia com o tradicionalismo cultural estático no contexto de Belém, à luz de autores como Bakhtin, Artaud, Salles, Schechner e Lyra, dentre outros; além de aspectos como a mistura de atores e não-atores na cena como forma intencional de experimentar a partir de histórias e narrativas de vida – a “autoperformance” de Ligiéro (1989) – de travestis, veados, cafetões, ladrões e putas, que provocavam um choque nos padrões e comportamentos considerados morais. Sua cena estabelece princípios éticos e estéticos da homossexualidade e seus preconceitos associada à questão étnica e racial, numa colagem erótica e pornográfica aliada a textos e imagens sacros que, derrepente, explodiam num batuque ao vivo. Luís Otávio foi o precursor de uma cena performativa no Pará que misturava vários elementos da cultura africana e indígena, com uma colagem de textos de vários autores contemporâneos misturados a sua fala questionadora e política, colocando em cena uma experimentação coletiva, compondo um coro simbólico, um corpo único e simbólico na cena. Considerado polêmico e radical em tudo o que fazia, Barata teve várias de suas obras censuradas, entre elas a importante trilogia que analiso neste artigo: “Genet – o palhaço de Deus” (1988), “Posição pela carne” (1989) e “Em nome do amor” (1990). Sua importância para a cidade de Belém é enorme, e não figura em nenhum documento existente sobre a cena contemporânea, nem no Pará. A cidade colocou sua obra na margem devido sua fala protestadora e a revelação do corpo dos atores em performance não se  distinguindo do mundo, mas estava misturada aos animais e à natureza, era parte da terra, uma cena orgânica e carnal, grotesca, com os corpos despidos e suados.  Essa obscenidade na cena causava um desarranjo do sistema social, perturbando os princípios e os códigos cívicos, que na maioria das vezes acabava sendo censurada ou protestada. Lutando contra uma sociedade que sempre vestiu os homens, rechaça o prazer carnal, ignora os homossexuais e sua forma de viver, Barata vem despindo seu pensamento, através dos corpos nus, que falam e reagem por eles mesmos.

Palavras-chave:

 

  • O teatro de rua no Brasil na primeira década do terceiro milênio.

Noeli Turle da Silva,  Licko Turle
UNIRIO

Resumo: Este trabalho é uma visão panorâmica, ainda embrionária, sobre o desenvolvimento do Teatro de Rua no Brasil na primeira década do terceiro milênio e tem como eixo central a constituição da RBTR – Rede Brasileira de Teatro de Rua – uma organização independente que se forma em torno das lutas por políticas públicas na área da cultura e do reconhecimento desta modalidade teatral junto à crítica, à academia, aos governos e à própria classe.  A RBTR é, atualmente, o único movimento de teatro organizado que possui articuladores em todo o território nacional, promovendo encontros regulares de seus membros. Esta comunicação se insere na etapa inicial de minha pesquisa de doutorado sobre a formação do ator a partir da linguagem teatral desenvolvida por Amir Haddad no grupo Tá Na Rua. Esperamos que o levantamento dos dados aqui apresentados contribua para suprir a demanda por documentos sobre a historiografia do teatro de rua no país, auxiliando assim os estudos de pesquisadores e especialistas nesta área do conhecimento.

Palavras-chave:

 

  • O saber de Seu Firmino

Alternativas metodológicas na pesquisa académica sobre os processos coletivos

Renata de Lima Silva
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)/ Fapesp/Capes

Resumo: Em uma pesquisa na qual a hipótese central consiste na idéia de que na capoeira angola e nos sambas de umbigada existe um referencial técnico, formal e poético para se pensar o corpo na dança contemporânea, observa-se uma identidade corporal construída numa relação dinâmica entre corpo e cultura. Tal relação, em sua historicidade é marcada por assimilações (incorporações) e criações, num devir tradição e inventividade no qual o “o corpo se movimenta na cultura ” e que  “o corpo é movimento da cultura”. Como trazer a baila essas relações, devires e, principalmente, imagens e sensações (já que se trata do corpo em sua materialidade) para o campo da pesquisa em arte, sem incorrer no risco de longos caminhos no terreno das ciências sociais? Numa tentativa de responder essa questão, surge José Firmino da Silva, numa narrativa semi-ficcional e performativa, como recurso utilizado para se criar ou mesmo acionar o imaginário e percepção de um contexto histórico-cultural no qual uma identidade corporal é construída e assume a corporeidade própria das manifestações em questão. Seu Firmino, um jovem senhor de 400 anos traz no corpo um pouco da história do negro na formação cultural brasileira; da capoeira angola e dos sambas de umbigada, fundidas em minha história pessoal e passando por questões de cunho social a elas inerentes.

Palavras-chave:

 

  • O corpo, elocução de princípios estéticos ancestrais na pesquisa artística da comunidade quilombola

Sara Passabon Amorim
Mestre em Teatro
Centro Universitário São Camilo-ES

Resumo: O estudo em questão visa apreciar o corpo negro em “atos” artísticos e a importância da fundamentação metodológica e teórica, que visa desenvolver  os princípios artísticos ancestrais na organização de afro-descendentes na comunidade quilombola de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim – Espírito Santo -. Observam-se nessa comunidade várias representações/expressões como o teatro a dança as práticas culturais. Centralizado na construção e elaboração das performances, através de elementos da tradição africana como o inseparável trio –“dançar-cantar-batucar”–. Busca-se na Etnocenologia de Jean-Marie Pradier, e no conceito do ato performativo, estabelecidos entre Victor Turner e Richard Schechner, ampliar o olhar de análise nas manifestações humanas extra-cotidianas espetacularmente organizadas. Pretende-se demonstrar nesse estudo uma forte preocupação com o desenvolvimento da linguagem corporal a partir de conceitos e fundamentos da performance artísticas, elaboradas a partir o uso do corpo  humano ( histórico, social, afetivo) como sujeito principal de suas experiências/ações e criações artísticas. “O corpo retirando-se do mundo objetivo, arrastará os fios intencionais que o ligam ao seu ambiente e finalmente nos revelará o sujeito que percebe assim como o mundo percebido” (MERLEAU-PONTY, 2006: 110) São apresentadas oficinas comunitárias,desenvolvidas e organizadas a partir dos seguintes pilares: poetizar, fruir e conhecer arte, que (re)propõem um ensino/resgate do conjunto de valores e hábitos, tanto sociais e comportamentais como estéticos, contextualizado nos gestos e movimentos que caracteriza a estética de afro descendentes de princípios ancestrais. Dessa forma estabelece o estudo das chamadas artes performativas, nas quais o corpo negro centraliza a expressão.

Palavras Chaves: Corpo negro, pesquisa artística, comunidade quilombola